O segundo filme de Jennifer Kent, The Nightingale (2018), acaba de receber dois prêmios no Festival de Veneza: o Special Jury Prize e o Marcello Mastroianni Award for Young Performer (pela atuação do jovem Baykali Ganambarr). Durante uma das sessões, um jornalista insultou a diretora.
Mas o assunto deste texto é o primeiro filme da australiana que aprendeu com Lars von Trier a importância de ser teimosa: The Babadook (2014).

Mas o assunto deste texto é o primeiro filme da australiana que aprendeu com Lars von Trier a importância de ser teimosa: The Babadook (2014).

Reza
a lenda que, após desiludir-se com a carreira de atriz, Jennifer Kent
ofereceu-se para participar do staff do diretor dinamarquês nas
filmagens de Dogville,
e conquistou o cargo de assistente do diretor. Reza a lenda que o
principal aprendizado de Jennifer no estágio foi a importância da
teimosia.
E
depois de muita persistência, conseguiu realizar o primeiro
longa-metragem, inspirado num curta de sua autoria. The Babadook,
produzido pela Causeway Films, foi divulgado em mais de 70 festivais e aclamado em muitos deles, como Sitges e Sundance.
Com
um elenco mínimo e cenários intimistas (nada a ver com o estereótipo
dos filmes australianos), Jennifer Kent faz o espectador se embrenhar na
assustadora história de Samuel (Noah Wiseman), menino de 6 anos que
carrega consigo a culpa de ter nascido no dia da morte do pai, falecido
enquanto levava a esposa à maternidade.
A
mãe de Samuel, Amelia (Essie Davis), isolou-se no luto pela perda do
marido, concentrando-se na rotina diária de criar o filho e trabalhar na
casa geriátrica, praticamente sem vida social, e uma vida sexual (?)
típica de uma pessoa solitária.
O cachorrinho
de Samuel, a vizinha Gracie Roach (Barbara West), simpática anciã que
às vezes cuida do garoto, a irmã de Amelia, a priminha de Samuel, o
colega de Amelia na casa geriátrica e Oscar Vanek, o pai de Samuel que
morreu há 6 anos e cujos pertences são guardados no porão da casa,
completam o quadro de personagens deste horror gótico.
O
roteiro é muito bem construído e na parte inicial apresenta Amelia como
uma mãe dedicada e abnegada, que abriu mão da vida pessoal em prol de
criar o filho. Apesar dos esforços da mãe, o menino Samuel, por sua vez,
é problemático, obcecado em armas e violento na escola e na interação
com outras crianças.
Amelia
enfrenta a situação com estoicismo até que o filho começa a enxergar
uma criatura chamada Babadook, personagem de um livro que surge
misteriosamente em meio aos demais.
A
história progride até em torno da metade do filme como um drama sobre
perda, dificuldades para criar os filhos, medos inerentes à infância,
etc.
Daí
em diante há uma reviravolta de tom e o foco no menino dá espaço para o
foco na mãe. O filme de Jennifer Kent se torna um terror hardcore,
daqueles de "scare the shit out of" até do mais corajoso espectador.
O forte de O Babadook é
explorar ao máximo o tênue limite entre o que é delírio e o que é
sobrenatural. À medida que a transformação de Amelia vai se
consolidando, a fragilidade da situação de Samuel se escancara, e caberá
ao espectador avaliar quem são os verdadeiros monstros da história.
Ridiculamente
o filme não foi lançado nos cinemas e inexiste no Brasil em dvd e
Blu-ray. Para ter acesso a algumas preciosidades assim, a alternativa do
cinéfilo relutante é engolir em seco e aceitar as limitações patéticas
dos serviços de streaming.
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